Vou engolir
minha timidez e dizer que desde que voltei para casa, não parei de pensar que
não queria ter de dado adeus. Foi como tirar doce de criança ter você comigo
naquela noite, me dando a mão e olhando tão fundo nos meus olhos, que a única
reação existente era ficar vermelha sempre que eu tentava disfarçar o quanto eu
estava gostando de ser tratada daquele jeito. Sei lá, você é uma dessas pessoas
que amaciam o nosso coração e a gente não quer que vá embora. Fiquei tentando
dizer e me convencer que aquilo era totalmente casual, que os seus beijos eram
efêmeros, assim como a madrugada juntos em uma avenida agitada, mas parece que
algo em mim não consegue obedecer a esse comando mais. Eu não estou admitindo
nada, nem que gosto e nem que deixo de gostar, mas que de alguma forma, você
ficou em mim. E foi por isso mesmo que o medo tomou conta e fugir foi a única
saída, mesmo não querendo ser covarde. Fugi do lobo, das músicas, do sorriso,
dos olhos esverdeados e de tudo o que poderia ter sido. Por simples medo. Por
convicção de que estou bem sozinha. De que tudo é “como deve ser”, me punindo
por todas as vezes que escolhi errado antes. E admito, uma vez só, que sim, eu
tive medo pelo modo no qual você me fez ficar feliz em apenas uma noite, e não
precisou de nada para isso. Não tinham truques envolvidos, não tinham falhas
expostas, era fácil. Só você e eu, em um mundo desligado e completamente mudo
ao nosso redor. Como se fossem acordes fáceis de um violão há muito tempo
desafinado. Você me encontrou, ali no meio de uma bagunça frágil, e mostrou
muito pouco do que poderia ser. E essa fração me encantou, se tornando muito
mais do que um beijo e um adeus no final da semana. Fiquei exposta a certo tipo
de dilema: foi uma noite que poderia ter se dissolvido em uma vida inteira, ou uma
vida inteira que nunca poderia se igualar àquela noite? Não sei responder a
essa pergunta. Mas toda a vez que tento achar motivos para te tirar da mente,
vem àquela lembrança frágil das suas mãos segurando meu rosto e dizendo o
quanto eu era linda. Podia ser uma mentira, mas colou. Assim como seu instinto
protetor, assim como o filme engraçado que a gente escolheu, assim como a
cerveja que a gente bebeu. Eu queria mais da sua conversa, mais daquela
sensação que eu estava com alguém. E nesse tempo todo sozinha, nunca mais quis.
Mas aí veio você e seu jeito calmo que combina muito com o meu, a sua falta de
atenção para o que está acontecendo ao redor, que ironicamente é igual a minha
e todo o resto que eu compartilhei naquelas poucas horas com você. Foi aquele
misto de intensidade em pouco tempo que eu com certeza quis para mim, mas não
soube o que fazer. E agora está tudo nesse texto, porque é a única forma que eu
encontrei de te dizer tudo o que eu escondi esse tempo todo.
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