segunda-feira, 2 de março de 2015

Resenha "Jardim de Inverno - Kristin Hannah


Sabe aquele livro que você escolhe porque a capa é extremamente bem feita? Pois é, eu faço isso também. No caso, nem li muito a sinopse, mas me interessei tanto pela beleza, que resolvi baixar no meu LEV. Mas, assim como alguns outros, esse livro ficou em uma fila de espera quase eterna, enquanto eu devorava meus autores prediletos. Até que eu resolvi dar uma chance. E caramba, ainda bem que eu fiz isso, porque a Kristin Hannah definitivamente sabe como escrever um bom drama!

Não sei se cheguei a citar aqui, mas adoro quando a história se passa em lugares não tão comuns assim no universo literário. Adoro ler Khaled Hosseini porque consigo compreender um pouco do Oriente Médio, por exemplo. E no caso de "Jardim de Inverno", o enredo é indiretamente um retrato da Rússia na época de Stálin, o que é com certeza um motivo a mais para se gostar do livro. Quem não ama história, certo? Mas ao ler J.I., você precisa ter paciência. A história vai se montando aos poucos, como se a autora de fato nos preparasse para o final surpreendente. 

Tudo começa com a relação fria e seca de Anya Whiston com suas filhas Meredith e Nina, que desde muito cedo percebem o quanto o desagrado pode ser cruel. Ao encenar um dos contos de fada da mãe russa, Meredith - a cabeça das irmãs - é impedida de continuar a peça, quando Anya grita um basta e vira as costas para as filhas. Mere decide que não vai mais tentar agradar a mãe e Nina se fecha para isso também. Quando crescem, as duas são apenas um pedaço do que poderiam ser, justamente por conta desta relação complexa e sem sentido. Ambas não sabem o que fizeram de errado para entenderem o motivo pelo qual a mãe nunca se aproxima, mas seguem suas vidas sem este carinho. Meredith é casada, com duas filhas que agora estão na faculdade, e se vê perdida em uma relação estranha com o marido e com o trabalho que herdou do pai. Já Nina, que a cada dia está em um país diferente fazendo jus ao seu nome de fotojornalista, não consegue se abrir para Danny, mesmo sabendo que está apaixonada. Mas isto não é tudo. As três se vêem obrigadas a concertar a situação quando o pai, Evan Whiston, morre e pede para que Nina faça com que sua mãe conte o final da história do famoso conto de fadas. 

É claro que a senhora russa não é uma das pessoas mais fáceis de lidar e Meredith, que assume tudo enquanto Nina está novamente fora do país, parece esquecer de si mesma e afastar cada vez mais aqueles com quem deveria resolver as coisas que estão visivelmente erradas. Quando a irmã enfim volta, começa sua jornada árdua para fazer sua mãe contar a história, e não desiste até que conquista da mãe gradativamente, demonstrações de que realmente há um coração escondido por debaixo daquela frieza. "Jardim de Inverno" não é uma história delicada, mas sim sofrida. Conta a história de uma russa de fibra, que sobreviveu à tudo e à todos pelo amor que sentia e que, no fim da vida, pôde finalmente ver tudo isso se encaixar e receber o perdão que tanto se culpava por achar que não merecia receber. 

Vi que a Kristin escreve muito sobre esses temas, mas realmente não esperava uma história tão sensacional e profunda quanto a de Anya Whiston. Você começa lentamente pelas filhas e por suas vidas que estão de alguma forma desconcertadas pelos erros da mãe, e depois desenrola a história e vê os acertos acontecendo conforme as três se conhecem e se conectam. Quando li, me emocionei demais porque tenho uma relação bem forte com a minha mãe e a minha irmã, e acho que esse livro mostra como é uma família de verdade, sabe? Você enxerga pouquíssimas faces de um prisma, que na verdade é muito mais cheio de pequenos espelhos do que conseguimos ver. Saber a história da mãe mudou a vida delas e não somente porque passaram a perdoá-la e a aprender a amá-la, mas porque encontraram respostas para seus próprios dilemas. E nem quero comentar sobre a Rússia das memórias de Anya! Chorei demais durante a maior parte do livro. Leiam se forem capazes ;)