sexta-feira, 10 de julho de 2015

Resenha "A Abadia de Northanger" - Jane Austen


Voltei depois de muito tempo de sumiço para escrever sobre uma das minhas autoras favoritas e minha musa inspiradora quando escrevo qualquer tipo de coisa. Ganhei um box lindo da L&PM com alguns dos "principais" livros da Jane Austen de presente das minhas amigas e comecei por "A abadia de Northanger" porque sinceramente não tinha visto nada sobre esse livro ainda. E nossa, como eu me surpreendi! Um dos meus preferidos é sem dúvida nenhuma "Persuasão", porque de todos os tipos de narrativa de romances possíveis, acho que é o mais bonito (sim, quando leio, sou uma romântica sem limites, me culpem). Mas prometo que farei uma resenha depois, hoje é dia de falar sobre esse livro que, segundo alguns críticos e com certeza propositalmente por parte da autora, é uma comédia satírica. Meu propósito no Blog não é muito entrar em discussão sobre o olhar crítico das narrativas que eu leio, então não pretendo entrar nos pormenores, mas "A Abadia de Northanger" entra na categoria dos que trazem várias questões sobre certos costumes da época. E para quem gosta de ler Jane Austen, sabe muito bem (ou fica sabendo agora) que ela gostava de criticar sutilmente a sociedade do séc. XVIII, pois em todos os seus enredos há ironia em algum hábito da época - principalmente acerca do casamento e questões relacionadas ao comportamento feminino. 

Bom, neste não há diferença. Somos apresentados à jovem Catherine Morland e sua família, que assim como os Bennet, de "Orgulho e Preconceito", é grande e relativamente pobre. Já começamos com o diálogo bem humorado dos pais e da própria autora, que ao descrever a nossa heroína, pintam a jovem Catherine como uma criança "espoleta" e pouco amiga dos bons modos, mas que, por sorte, começa sua mocidade com hábitos dignos de uma garota e se torna, aos olhos dos pais, "uma menina engraçada, quase bonita". Só por este começo já sabia o que me esperava nas páginas a seguir: bom humor e um enredo leve, fluído. Vi algumas resenhas que diziam que o livro não prende a pessoa, mas é porque o romance só seja um dos planos que a autora coloca em cheque. Ainda bem que não é tão superficial assim. Bem, Catherine, que começa a tomar muito gosto por literatura, principalmente pelos livros de Ann Radcliffe (ela realmente existiu, e foi uma autora de romance gótico muito conhecida na época. Dizem que "A Abadia de Northanger" é uma sátira à estas publicações), é convidada a sair do campo e ir com seus tios, os Allen, para Bath. Ah, a famosa Bath! Leitores de Austen sabem o quanto esta cidadela é frequentemente incluída nos livros, e não é por menos. Vejo como um lugar onde nossas personagens favoritas são introduzidas à sociedade, muitas vezes por por seus parentes ricos e refinados. Não sei muito bem se era mesmo um costume da época, porque não fui à fundo, mas há um certo padrão quanto à isto nos livros da Jane. Enfim, Catherine vai à Bath e a primeira coisa que ela e sua tia fazem é se prepararem para ir à um baile. Primeiro ponto: a sra. Allen me pareceu uma pessoa muito fútil, mas de forma avoada. Ela só se preocupa com assuntos relacionados à roupas, agora já não sei se é porque não sabe mais falar sobre outra coisa ou se porque é fútil mesmo, porque em certas ocasiões ela se mostra muito amorosa e preocupada em relação à sobrinha. No baile, as duas se lamentam muito pelo fato de não conhecerem alguém - já que naquela época você não podia se apresentar formalmente à ninguém caso outra pessoa não fizesse isso - , mas acabam por sorte esbarrando com um tal de Henry Tilney que já cai rapidamente nas graças da sra. Allen porque conhece alguma coisa sobre musselinas. Agora que foram apresentadas ao sr. Tilney, puderam aproveitar o resto da festa com a companhia dos acompanhantes do cavalheiro, a sra. e a srta. Thorpe. Isabella Thorpe e Catherine se tornam tão amigas quanto as horas do baile lhes permitem e dessa amizade não sai coisa muito boa. Nossa heroína é tão ingênua que por vezes não consegue ver maldade nos outros, sendo considerada por muitos leitores uma das mais bobas heroínas descritas por Austen. 

Mas vejam bem, "A Abadia de Northanger" é um dos primeiros livros dela, publicado só depois de sua morte. Não acho que ela tivesse atingido sua maturidade como escritora nesta publicação, mas de um todo o livro é muito envolvente. Catherine dança com Tilney no baile e descobre que ele é um clérigo e que não mora em Bath, está só de passagem. Mesmo assim os dois logo se afeiçoam, pois ele gosta de provocá-la e por sorte, ela "cai" em todas as suas brincadeiras. O personagem dele é de longe um dos meus favoritos, se não o que mais gosto. Henry é divertido e irônico até dizer chega, além de ser muito bonito e carismático. É o tipo de cara que em qualquer situação conseguiria se dar bem com as pessoas à sua volta, já que não tem muito como "fugir" da educação dele que se torna, em muitos momentos, cativante. Quem não gostaria de um cara desses na vida real, né? 


Infelizmente, nossa heroína e sua amiga inseparável, Isabella Thorpe, acabam se encontrando durante um passeio matinal, com seus respectivos irmãos, James Morland e John Thorpe. Diferentemente do nosso irresistível Tilney, Thorpe é um desses caras que, se Austen escrevesse livros sobre romances da nossa época, seria aquele que só fala sobre carros e sobre si mesmo. Ele também aproveita o fato de que Catherine é extremamente ingênua e abusa disso em diversos momentos do livro. James se apaixona por Isabella que, por achar que ele é um homem rico, corresponde de forma esnobe às investidas e por conta disto arrastam Catherine para todos os passeios possíveis para que os dois possam ficar juntos e John possa cortejar a menina. Neste ponto também vejo o quanto a ingenuidade da personagem à levou para as piores companhias. Quer dizer, os Thorpe em nada são boas amizades, nem mesmo a mãe que é igualmente interesseira. John não sabe ser menos chato e Catherine sofre com suas manipulações, que por algumas vezes lhe trouxeram situações desagradáveis com os seu tão querido Henry Tilney. Em uma dessas situações, Catherine já fez amizade com a srta. Tilney e já conheceu de vista o Coronel Tilney, o pai arrogante e com ares de superioridade. Por conta de John, um passeio foi cancelado sem explicações com os irmãos Tilney, e eles se reencontram no Teatro em Bath, onde Catherine tem a chance de se desculpar. Para se gabar da companhia, John faz o Coronel Tilney crer que Catherine é uma moça muito rica e que terá uma renda enorme se casar com qualquer moço que a faça tal proposta. O coronel, que assim como os Thorpe é interesseiro e desprovido de emoções, logo vê na moça muitas chances e a convida para ir com eles para a Abadia de Northanger. 

Acho que é mais ou menos neste ponto da história que as sátiras de Austen em torno dos romances góticos da sra. Radcliffe se tornam mais intensos. Vamos dizer que Catherine é aficcionada por Udolpho, um dos livros da autora, e que ele cria asas para a imaginação fértil da moça. Eu me identifiquei muito com ela, pois às vezes quando leio algum livro de fantasia consigo me "teletransportar" para aquele mundo e imaginar coisas relacionadas à ele no cotidiano, e Catherine age exatamente assim, só que de forma um pouco mais problemática. Acontece que abadias, como as lendas as tornaram, são consideradas assustadoras e assombradas. No caminho para Northanger, Henry provoca Catherine contando histórias absurdas sobre assassinatos e vampiros na casa, que aumentam ainda mais a imaginação irreverente dela. Na casa, Catherine começa a desconfiar que o Coronel tem alguma coisa ver com a morte da esposa, mas... Será que isso realmente aconteceu ou é só fruto das leituras frequentes que ela faz? Isto é basicamente o motivo da briga "clímax" do casal Tilney-Morland e logo após este episódio, Catherine é tirada às pressas da abadia, porque o Coronel descobriu que ela não era rica como haviam lhe contado. De volta ao campo e sua casa, Catherine se vê mais madura: agora descobriu o que um livro pode fazer e pode tirar dela, assim como gostar de alguém rico também se torna um fardo. O final é realmente um desfecho que todos podiam esperar, considerando todos os finais dos livros da Jane. Mas o mais legal é a relação entre o casal principal, que sobrevive às investidas más dos Thorpe e do Coronel, bem como à ingenuidade da própria personagem. 

Muitos se perguntam como Henry se apaixona pela abobada Catherine, mas acho que é exatamente esta característica que o chama a atenção. Catherine é cativante também porque não percebe o que pensam sobre ela, então seu jeito é absolutamente autêntico, e portanto, encantador. Acho que a combinação de personalidades neste livro é tão boa quanto em "Orgulho e Preconceito", mas sou suspeita, já que (me julguem) eu prefiro Tilney ao sr. Darcy. 


Esses gifs são do filme que foi produzido em 2007, com a Felicity Jones. Assisti-o logo após ler o livro, e não encontrei motivos para reclamar. Enfim, vale muito a pena se jogar em algum livro da Jane, e para começar, "A Abadia de Northanger" é bastante eficaz para introduzir qualquer um que não queira ler o seu "best-seller" em primeiro lugar. Amor é amor, né gente? Não importa se você é a Elizabeth ou a Catherine, no fim das contas vejo que Jane Austen sempre buscava encontrar as saídas para os obstáculos na vida amorosa de seus personagens, como - acho eu - gostaria de ter feito em sua própria (mas isso é assunto para outro post). Assistam e leiam! Tem o filme completo no Youtube, vale a pena. 

ISBN-13: 9788525424648
ISBN-10: 8525424641
Ano: 2011 / Páginas: 272
Idioma: português 
Editora: L&PM

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