“Uma coisa ela havia aprendido: a vida raramente segue nossos planos.”
Para uma leitora assídua de Nicholas
Sparks, o livro "Uma Curva da Estrada" surpreende. É claro que há
muitos pontos padrões ao longo do livro, que são mostrados logo de início, mas
o seu desfecho é uma surpresa para quem está acostumado com os finais felizes e
quase clichês de Sparks.
O livro conta a história de vida do
subxerife de New Bern (Carolina do Norte, EUA), Myles Ryan e seu filho Jonah,
de apenas sete anos de idade, que perdem simultaneamente Missy, a esposa e mãe
dedicada. Até então, a morte é um mistério. O que se sabe é que Missy foi
correr de noite e foi atropelada por alguém que se sentiu culpado demais para
cobri-la com um manto branco e fugir sem prestar queixa. Isso é suficiente para
que Myles veja sua vida completamente destruída e sem sentido, começando a
fumar e a viver de modo automático, preocupando seus amigos mais íntimos. É
doloroso ver seu sofrimento e acompanhar a sua culpa diária; além de perder a
esposa que fora sua primeira namorada nos tempos de colégio, ele não conseguiu
solucionar o caso e nem muito menos a polícia. O suspeito é uma icógnita
pesarosa tanto para o leitor, quanto para o próprio personagem principal.
O ponto alto do livro começa quando Sarah
Andrews é apresentada, a professora de Jonah, que se mudou de Baltimore para
New Bern para recomeçar sua vida. O personagem dela relembra algumas outras
personagens Sparkianas, como Katie, de "Um Porto Seguro", que também
muda de cidade à procura de recomeço. Porém, diferentemente de Katie, Sarah não
tem um passado trágico, e só é contado o motivo de sua mudança no meio do
livro, quando o autor se aprofunda mais em sua vida. Como de costume, o padrão
de um personagem órfão e/ou com um familiar só fica no papel de Myles, que tem
um pai ausente, enquanto Sarah é membro de uma família calorosa e grande, e sua
mãe aparece muitas vezes ao longo do livro, dando-lhe conselhos e sendo o seu
oposto, como acontece muito nos livros do Nicholas Sparks.
Sarah é um importante meio de aproximação
e elo entre Jonah e Myles, quando repara nas dificuldades de aprendizagem que o
filho do subxerife apresenta na escola e que foram negligenciadas pelos outros
professores. Ela chama então Myles para uma conversa e propõe aulas
particulares de reforço para o menino, e aí é onde a pequena chama se acende
entre os dois. De início, o subxerife não admite para si mesmo que pode estar
pensando em Sarah, pois está sozinho há muito tempo e não se sente muito
confortável com a ideia, mas é levado ao clima de romance inevitável entre os
dois. Essa parte é uma das minhas preferidas, pois o começo de qualquer
relacionamento é envolvente em qualquer situação. E nesse caso em específico, é
engraçado e apaixonante ver Myles tentando se aproximar de Sarah e convidá-la
para sair de modo tímido, quase como se ele fosse um adolescente. Sarah se
mostra um personagem muito divertido e inteligente, então sentir empatia por
ela não é muito difícil. O romance dos dois se desenrola ao mesmo tempo em que
novas pistas vão surgindo sobre o caso de Missy. Surpreende muito a forma em
que Nicholas Sparks se arriscou em um romance quase policial, e digo quase
porque não teve aprofundamento e mistério o suficiente, mas para uma primeira
vez prendeu a minha atenção muito bem. Aparecem cartas misteriosas do
assassino, logo de início, mostrando o quanto ele se arrependeu e se sente
confuso com a história toda. Os pontos de vista que podemos ter passam de
"este cara é um lunático" a "é uma criança sozinha e
confusa", mas se o leitor prestar bastante atenção mata a charada antes
mesmo de Myles descobrir. O subxerife passa pelos dramas do livro, fica
desatento em relação à Jonah e negligencia a nova namorada Sarah, e é nessa
parte que você não consegue parar de ler. Primeiro porque a relação entre Jonah
e Myles é muito próxima e segundo porque a evolução do namoro com Sarah se
tornou cada vez mais sólida à medida que Myles deixou que ela cuidasse de suas
feridas e vice-versa.
O assassino aparece se denunciando nas
cartas anônimas que preenchem o livro. Até então, ninguém suspeitava, mas
quando é revelado o seu segredo muitas coisas são postas em jogo. Fiquei me
vendo na situação de todos os personagens nesta hora e o que faria se fosse cada
um deles. Acho que essa é a graça ao ler Nicholas Sparks e sentir o suspense em
que ele termina cada capítulo. O assassino por fim, é quase como o personagem
chave para que tudo se resolva na vida de Myles. Ele pode, ou não, deixar de
lado os dois anos de investigações sobre a morte de Missy, como também
"vingar-se" como subxerife. Aqui fica também ao encargo do leitor sua
visão sobre a decisão final de Myles, que surpreende mesmo. Fiquei pensando que
foi heróico, mas ao mesmo tempo muito arriscado estar na pele do culpado na
hora H.
No fim, a mensagem que o livro aborda é
exatamente as imperfeições existentes no homem e como o amor modifica isso nas
pessoas. Os erros que cometemos muitas vezes são perdoados se a outra pessoa
nos enxerga como seres capazes de cometer burrices o tempo todo e talvez seja
por isso que o livro me surpreendeu tanto. Foi sobre amor, mas isso foi um tema
secundário ao longo da história. Em "Uma Curva da Estrada" somos
apresentados aos pesadelos diários de um homem apaixonado que perdeu sua
mulher. Na cidadezinha estilo interior de New Bern, podemos ver que o caminho
fácil era simplesmente se deixar engolir pela rotina automática, mas que a
presença de um novo amor mudou-o porquê ele mesmo permitiu isso. Há pessoas que
passam em nossas vidas com um papel intenso de modificar nosso próprio jeito de
ser, e Nicholas Sparks conseguiu exemplificar muito bem essa verdade em seu
livro.
FICHA TÉCNICA:
Edição: 1
Editora: Arqueiro
Ano: 2013
Páginas: 304
Tradutor: Fernanda Abreu
Editora: Arqueiro
Ano: 2013
Páginas: 304
Tradutor: Fernanda Abreu
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